segunda-feira, 7 de maio de 2012

O DESAFIO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

 

Todos que acompanham esse blog sabem da minha ação na educação continuada de professores, mas nunca havia escrito nada que compartilhasse meus sentimentos quanto a essa experiência. Hoje, às vesperas de uma nova empreitada, refleti sobre alguns pontos que, na minha opinião, servem também para a reflexão de vocês:

 
1) A Zona de Conforto: todo profissional, com determinado tempo de carreira, adiquire um conhecimento tácito de sua função, o que também se conhece como expertise ou nohall. Esse conhecimento nos deixa num lugar confortável e num certo automatismo. Quando surge uma "formação" o profissional pensa: "pra que? eu ja sei". Mesmo sabendo que o assunto é novo. Isso acontece porque algo que precisa ser formado, automaticamente nao está completo, e essa reflexao nos leva a uma obrigação de conhecimento de algo novo, e nos tira da zona de conforto.
2) A Troca de Papéis: muitos educadores nao se sentem confortáveis com a troca de papéis. Isso acontece muito claramente quando o professor se ve sentado no lugar onde todos os dias estão os seus alunos. Por isso, talvez, seja tao difícil lidar com alguns problemas comportamentais em formação: celular de professor que toca, inumeras idas ao bebedouro e ao banheiro, conversas paralelas, olhar perdido.... ou seja, os professores costumam repetir diversos comportamentos que ele mesmo repreende nas suas aulas do dia-a-dia, por mais interessante que seja o assunto.
3) Os Impecilhos: ao tratar de um assunto que provoque o professor a modificar em algum grau seu plano de aula, seu conteúdo e consequentemente sua prática pedagógica, a primeira reação cosuma ser no sentido de que "isso nao vai dar certo", em vez de "me ajude a pensar uma forma de fazer isso". Reclamações, questionamentos negativadores, mostram que a saída da zona de conforto (item 1) acabou de acontecer, e agora o agir é inevitável.


Com certeza existem outros pontos a refletir e todos eles servem para pensarmos em formaçações cada vez mais elaboradas. A formação de professores é um desafio, mas é também uma necessidade orgânica do processo de ensino-aprendizagem. Professor que nao estuda nao ensina! e essa máxima serve também para as equipes gestoras que nao valorizam a formação de professores. 

No entando, esse cenário tende a estar cada dia mais modificado, uma vez que a própria universidade tem fomentado o desejo dos novos professores pelo saber contínuo. Essa é uma carreira promissora. Ensinar (e educar) não esteve tão em voga. Os mais atualizados, os com a melhor prática, os com melhor preparo, alcançam outros patamares, bem como acontece em toda sorte de profissões.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Orixá das águas - Iemanja

N'África, esse orixá recebe seu culto no encontro das águas doces e salgadas. No Brasil, ela, Iemanjá, tornou-se a dona das águas salgadas. Talvez seja a divindade mais conhecida e com maior culto por aqui. Talvez pela vasta extensão litorânea do país e a importância da pesca na economia local e também nacional e em parte por um interesse especial da mídia. Eu nunca vi uma reportagem sobre o Olubajé*, vc já? ... mas é claro, os demais cultos são domésticos e as oferendas a Iemanjá são feitas numa área pública.

A proeminência da Rainha das Águas é tal qual a importância desse elemento, essencial à vida. Existem algumas explicações para essa divindade. Sobre seu nome, diz-se que vem da composição de ia-omó-ejá, que significa, em yorubá "mãe cujos filhos são peixes". No entanto, existem várias formas, ou qualidades, de Iemanjá. As qualidades dos orixás talvez nao sejam tão simples de enteder. Uma comparação um tanto esdrúxula, mas que talvez ajude, é pensarmos nos títulos de Maria, a mãe de Jesus na tradição cirstã. Em cada aparição de Maria ela recebe um nome: Nossa Senhora de Fátima, Nossa senhora das Dores.. etc. Os orixás, a partir da nação em que é cultuado, tem sua iconografia modificada, sua explicação também, mas matém uma essencia expressa principalmente nos seus domínos (no caso de Iemanja, as águas).

Essas qualidades de Iemanjá foram expressas no cancioneiro popular atraves de uma música gravada na década de 80 por Clara nunes e posteriormente Marisa Monte, "Lenda das Sereias".

"Ogunté, Marabô,Caiala e Sobá
Oloxum, Inaê, Janaína, Iemanjá"
 
Todas essas são "qualidades" de Iemanjá. Conta-nos o pesquisador Luiz Antônio Simas que Iemanjá Ogunté, ou Iaogunté, é, "em alguns mitos a mãe de Ogum, em outros é a mulher de Ogum Alabedé. É uma Iemanjá guerreira, jovem, que quando dança porta uma espada". Por isso o nome Ia-ogun-té "mae de ogum primeiro". Sobre Marabô, supõe-se que nao seja uma qualidade de Iemanjá, mas uma alusão a uma saudadação contina num Oriki muito popular nos candomblés que diz: Awá ààbò à yó, Yemanja ... Em geral o povo de santo canta esse início ( awá ààbò ) dizendo "Marabô a yó..." , o que não tem sentido preciso em português. Já Kaiala - que ao contrário da letra encontrada na internet se escreve com "K" uma vez que a letra C do nosso alfabeto nao existe no alfabeto irubá - é originalmente um inkice, Nkaia Nsala, divindade bantu que compõe o panteão de alguns terreiros. Sobá, é Assobá, a forma mais ansiã desse orixá, provavelmente de orgiem gêge. Oloxum é o nome dos sacerdaotes de Oxum, também orixa das águas - doces. Inaê, janaína são nomes populares de iemanjá, talvez sincretizados com algum mito indígena.
 
Iemanjá é a grande mãe. Ela esteve no princípio da criação e nos rege a todos. Todos devemos saudar Iemanjá, nao importa quem é o dono do seu orí. A Rainha das Águas é protetora de todo o povo que, como ela, abre os braços para receber o próximo, sem distinção.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

II Jornada Pedagógica em Ouvidor - Go

Em mais uma oportunidade de trabalhar com professores da rede pública, estive na cidade de Ouvidor, próxima a Catalão, em Goiás, Coordenando, ao lado da Profa. Dra. Altina Abadia, da UFG de Catalão, a II jornada pedagógica da rede. A cidade é muito agradável, e o grupo de professores me impressionou pelo compromisso com a formação, que durou 48h presenciais.
Na abertura oficial, que aconteceu na câmara municipal, além da solenidade, fiz uma rápida fala intitulada "A formação de formadores", em que ressaltei a importância de se construir uma carreira na educação, situação que passa obrigatoriamente pela educação continuada.
Prof. Ms. Mário Pires
Como de costume, meu principal curso abordou a lei 10.639, apresentei diversos materiais didáticos e paradidáticos para o ensino de cultura africana e afro-brasileira.
Nessa formação, levei dois excelentes professores: Sandra Pantaleão, que ministrou o curso "Laboratório de informática como ferramenta pedagógica" e, mais uma vez, Prof. Ms. Frederiko Luz, que ministrou o curso "Reforma ortográfica e gêneros textuais" e a palestra "Como trabalhar com problemas de aprendizagem".

Profa. Esp.  Sandra Pantaleão
Prof. Ms. Frrederiko Luz










 Tive a honra de trabalhar, nesse evento com a Profa. Dra. Altina Abadia, que também levou uma equipe composta pela Profa. Maysa e pela Profa. Ms. Heloisa. As professoras falaram sobre o esino de artes no ensino fundamental e o desenvolvimento de projetos na educação. A professora Altina ou apenas Tina, é divertida, bem humorada, carismática e a junção de seu conhecimento e sua vivencia fazem toda a diferença. É uma grande parceira... competente e amiga. Aprendi muito.

Prof. Ms. Mário Pires, Profa. Dra. Altina Abadia


Profa. Ms. Heloísa


A Secretária de educação do município, Reni Jacob, é uma mulher forte, dinâmica (como poucas) e muito empenhada no desenvolvimento educacional do município. Acho que tem muito a ensinar sobre gestão. É realmente uma figura de peso que tem feito a diferença em todos os aspectos. A ela os meus parabéns.Como também a todos os cursistas e às coordenadoras do evento.





terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sobre os comentários de Gentili - Nem tão inteligente assim

Quero tecer um rápido comentário sobre um post do apresentador de TV Danilo Gentili a respeito de uma polêmica gerada a partir de um Twit que dizia o seguinte:

""King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"

 
Logo em seguida uma Ong, Afrobras, se posicionou repudiando o comentário do apresentador cogitando acioná-lo judicialmente. Mais que depressa, Gentili postou um enorme comentário em seu blog argumentando sobre o corrido com base no pensamento de que as "raças" nao existem, e que somos todos da raça humana, e também afirmando que se é possível chamar gordos de baleia, altos de girafa, também é legítimo chamar negros de macacos.

Realmente a reação da Ong foi um tanto exagerada para o caso. Uma vez que em uma leitura mais detida percebe-se uma ligação maior com jogador-fama do que com macaco-pessoa negra. No entando os argumentos de Gentili, apesar de muito bem elencados, estão cheios de falhas e mostram um conhecimento muito raso, de senso comum, sobre a questão - muito embora ele tente, inclusive, usar fontes históricas.

O fato é que, diferenciar os seres humanos por raça não é, por si só, algo ruim ou pejorativo. As raças são realmente um emprestimo da zoologia, dado o advento do positivismo, cujo discurso foi apropriado pelas humanidades. A raça, então, tende a designar fatores biofisionômicos que formam grupos de pessoas com características particulares e ao mesmo tempo compartilhadas, como os olhinhos japoneses, o nariz árabe, e a cor preta. No entanto, há uma construção no decorrer da evolução das sociedades em que uma se vê superior a outra, nao necessariamente por esses traços, mas também, e predominantemente, por fatores de ordem "civilizatória". Os negros não foram escravizados apenas por serem negros, mas principalmente por serem, aos olhos eurpoeus, primitivos. Além dos discursos religiosos que os diziam sem alma - por terem a cor do luto - ou por tê-los como uma raça amaldiçoada por Deus, sendo esses descendentes de Cam.

Segundo Gentili: "Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados. Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado."


Ora, o fato de pessoas serem agredidas o tempo todo (gays, gordos, mulheres, altos demais ou magros demais e os ruivos) e não haver uma reação contrária a isso (embora eu duvide) e tudo cair na piada, isso nao justica querer que os negros tenham a mesma percepção desse tipo de situação. A punição por chamar um "preto de macaco" deveria ser a mesma para os outros casos. Agressão nao justifica agressão. Se um amigo seu, preto, te permite chama-lo assim, ótimo! é como a cidade que a gente mora, nao gosta, quer se mudar, mas se alguem fala mal... ÊPA!! 

Resumindo, a Ong nao precisa ir tao longe por conta do comentário do apresentador. No entando, da parte de Gentili, a emenda saiu pior que o soneto! respeito seu ponto de vista, e nao espero que ele leia sobre o assunto! no mais. Negros são negros (pretos e pardos) brancos sao brancos. Somos humanos, mas patilhamos mais com uns que com outros de características físicas (raça) e culturais (etnica). A graça está em nos respeitarmos assim e nao querer pormenorizar uma questao que é bastante complexa.



Li o texto do qual falo no seguinte endereço: http://pablodiego.posterous.com/eis-o-perigo-de-mexer-com-pessoas-inteligente

 


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Semana da Consciência Negra 2011

E chegamos a mais uma Semana da Consciência Negra. Todos os anos tenho, nessa data, a sensação de estar realizando um trabalho cada vez mais consistente. Isso porque percebo que, mesmo com passos nao muito velozes, essa temática tem ganhado espaço na mídia, na sociedade em geral, e, especialmente, na Escola.

E porque a Escola tem papel tão importante? bom, certa vez, assistindo a um documentário do qual não me recordo o nome, uma professora, num momento de desabafo, dizia: "A escola não pode tudo... mas pode muito!". Realmente, em certos momentos, parece que a Escola esta sendo incumbida de resolver todos os problemas da sociedade, mas na verdade, a sociedade tem cobrado da Escola mais que ensino. O temos cobrado da Escola é uma atuação mais contundente como formadora da cidadania.

Ontem, assisti estarrecido, mais uma notícia sobre agressão (dessa vez também física) a uma aluna negra. E, mais uma vez, uma porção de psicólogos comentando sobre bullyng. Eu, lógico, gritando do sofá da minha casa: "isso é racismo!". Será que essa Escola desenvolvia projetos que contemplasse a igualdade racial? Minha experiência me mostra que estabelecimentos de ensino que atuam efetivamente na formação da cidadania e na luta contra o racismo não estão isentas de fatos como esse, mas a possibilidade de que aconteçam é infinitamente menor.

O que quero para essa Semana da Consciência Negra é chamar mais uma vez a Escola para assumir sua posição. Não quero hoje postar dados, nem estatísticas, nada! apenas agradecer àqueles que de maneira mais direta tem contribuído para construirmos uma educação mais democratica e que seja fonte de conhecimento amplo, que não exclua nem discrimine nnhum conteúdo, e que veja na luta dos negros que construiram esse país um motivo de nos orgulharmos dos nossos ascendentes. SOMOS NEGROS SIM, ISSO É UM FATO!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Formação em Montevidiu do Norte - Go

Meu trabalho como formador me proporciona momentos muito marcantes. Conhecer diferentes realidades, pessoas de todas as formações, educadores em essência. Um desses deliciosos momentos foi participar da Jornada Pedagógica em Montevidiu do Norte, em Goiás. Nesse envento fui convidado a compor um equipe muito especial, coordenada pelo INOV (Instituto Nova Vida). Além de mim, o Professor Alexandre Malmam e a Drª Maris Eliana Dietz partilharam seus conhecimentos com um grupo de educadores, que atuam, em sua maioria, na zora rural do munícipio que abriga diversos assentamentos.

Prof. Alexandre Malmam, Drª Maris Eliana Dietz e Prof. Mário Pires
Toda a Comunidade se empenhou na construção de um momento rico de formação. As autoridades políticas locais - Prefeito e primeira-dama, vice-prefeito, vereadores - compuseram a mesa de abertura.


Tive a honra de abrir o evento com a palestra "Cultura Africana e Indígena: Saberes para Pensar a Prática Docente".
Prof. Ms. Mario Pires UFG




Prof. Ms. Mário Pires/UFG ministrando oficina aos participantes
À tarde ministrei o curso "Aprendendo e Ensinando com o Lúdico". O resultado também foi muito bom. Tivemos que usar o pátio devido o calor típico da região norte de Goiás. Os professores foram peça fundamental, uma vez que se dedicaram à formação no intuito de adquirir ainda mais preparo para a missão de estar em Sala de aula.

Formação em Corumbaíba - Go

Equipe de Corumbaíba - Go
A cidade de Corumbaíba, em Goiás, convidou-me gentilmente para contribuir na formação de professores realizada no ínício do semestre letivo (2/2011). Alguns temas ja haviam sido abordados e coube a mim encerrar o evento. Com um mini-curso que durou 8h, partilhei com os professores da rede municipal as principais metodologias, ja utilizadas e acprovadas, para aplicr a contento a lei 10.639 que regulamenta o ensino de cultura africana e afro-brasileira. Abaixo, a equipe da Secretaria de Educação municipal: A secretária Prfª Maria Goretti e a coordenadora do evento, prfª Dalva, que me recebeu muito gentilmente.´

À equipe de Comrumbaíba meus abraços carinhosos no intuito de saber em breve dos frutos da formação. Obrigado pelo interesse e pela efetiva participação de todos nas discussões que foram bastante ricas!